A HISTÓRIA FANTÁSTICA DE ÁLVARO DA CHARNECA
Esta não é uma HISTÓRIA minha... mas está FANTÁSTICA!!!
(Por Sandra Cardoso)
Alvaro Charneca…
"Quando era pequena dizia que ia ser "Escritora de histórias fantásticas" a part-time e "médica das baleias"!!! O meu Pai fartava-se de rir, e dizia sempre que com o tempo eu acabava por crescer e ia ser Advogada ou algo do género, UM EMPREGO SOLIDO!
Para desgosto dele, nunca cresci realmente, e a minha passagem pelo direito resumiu-se ao exame de admissão na Católica e a rápida escapada para MACAU para fugir aquele inferno! Sei lá... porque até tive boa nota, mas eu não fui talhadas para ser Advogada! No mínimo ia mandar os culpados para a cadeia e ser espancada pelos meus colegas e juízes!
Mas em pequena eu queria era salvar o mundo, nadar com as baleias, golfinhos em mar alto, brincar com as focas, correr com os cangurus, abraçar os macacos, e as preguiças, viver no meio dos gorilas, dos cães, dos gatos, das panteras e esquecer que existia civilização!
Sempre vivi em Lisboa, a Av. da Liberdade foi a minha casa durante toda a minha infância, aprendi a ler Lisboa como a palma das minhas mãos, sabia onde era tudo e nunca me perdia!
Quando ia para a escola, parava nos jardins e contemplava Lisboa, ficava deslumbrada com a luz, com o mar, com os prédios antigos, que imaginava logo as remodelações!!! No quadro o que estragava era o excesso de carros e de lixo... de diversos tipos...
No verão delirava com a praia, a Costa da Caparica era por excelência território de brincadeira… e liberdade… Era uma miúda traquina mas fácil de aturar segundo os meus pais e a Tia Eduarda, que na ausência de piscina, me arranjava um alguidar e eu ficava horas na quinta a sonhar, a chapinhar, a brincar com o Tarzan e os gatos do vizinho da quinta do lado! Não tinha animais meus, a minha mãe tinha a "pancada" das limpezas e nunca nada era duradouro para ela, por isso partiu-me o coração meia dúzias de vezes por causa dos animais….
Mesmo nessa altura, de vez em quando, apareciam uns desgraçados abandonados por ali, eu chorava pedia para os recolherem, mas as pessoas dali só lá passavam férias, e eles no verão ainda comiam e tinham festas, mas no Inverno ali ficavam, e muitos eu já não os voltava a ver…
Sentia-me pequena e impotente, ficava raivosa com todos e dizia que quando fosse grande me ia vingar! Iam todos para o lar! Não ajudavam os animais quando precisassem de ajuda, eu cá estava para lhes tratar da saúde!
Mas finalmente cresci, pelo menos em corpo, e embora não tenha sido "médica das baleias", nem "escritora de histórias fantásticas", continuo a achar que cada um de nós pode fazer a diferença e ir salvando o mundo que tem pelo menos ao seu alcance…
Já não vou para a Costa da Caparica de férias, nunca tenho tempo, já não entro dentro do alguidar para tomar banhos de sol, o Trazan já morreu e já não tenho com quem brincar, mas tenho a mesma vontade de fazer alguma coisa para mudar o que está errado…
Não meti ninguem no lar, com o tempo vou tendo umas vitórias: a minha família começa a ver os animais com outros olhos e a compreender esta minha luta… (nem todos ainda entendem, mas a ameaça do lar vai resultando!), já concordam que está errado abandonar e maltratar os animais desta maneira, já vão tolerando as minhas missões e ausências devido ao trabalho com os animais… Já vão protestando com os vizinhos que tem uma conduta menos boa com os animais, e já vão passando a palavra…
Está errado, esta gente ir de férias e abandonar os animais nas ruas, nos canis, ou ligar para a associações a dizer que já não podem ficar com o bicho e adeus!
Ora se não têm capacidade económica nem mental para ter um animal, não tenham! Não são obrigados; nem engravidam sem querer de animais! Por isso ter um animal, é apenas e só uma escolha! Não há cá desculpas como tem para os filhos: a pílula falhou, o preservativo estava roto, não sabia que se engravidava blá-blá-blá… eu ouço e vejo com cada coisa nas maternidades que nem vos passa pela cabeça! Ás vezes tenho que contar até dez para não as tratar mal e dar um par de estalos naquelas caras deslavadas! A paciência anda a encurtar com a idade, mas francamente, não há quem aguente tanta estupidez, irresponsabilidade e falta de ética junta!
Voltando a Charneca: num dos fins-de-semana que lá fui, dei com um canito com uns 3 meses abandonado no caixote do lixo! Embora o meu pai não tenha dito nada, o meu faro é pior que o dos cães e depressa dei com ele, ali esquecido, triste, cheio de carraças… estava gordo, mas estava vazio de tristeza… Mal me viu ficou submisso e adorou festinhas, os meus cães deram-lhe umas lambidelas e não demorou nada para ele vir a traz de mim e entrar para casa!
Era enorme, parecia já adulto, mas afinal, depois de ver os dentinhos, era um bebé, e só queria colo como bebé que era…
Todos protestaram, "o cão estava cheio de carraças e doenças", alegavam! Mas eu para variar nem ouvi metade, meti o cão no carro e vim-me embora.
O meu Pedrocas veio meio trombudo porque já cá tinha mais, mas depressa lhe passou, e o canito que entretanto ficou a chamar-se ÁLVARO (porque tinham umas sobrancelhas iguais ao do Sr. Álvaro Cunhal), e CHARNECA ( porque veio de lá) estava doentinho, mas depois de umas idas ao Tio Roberto, e umas picas minhas, ficou fino e lindo!
Crescia a cada dia que passava e quando eu ia á rua com ele era ele que me passeava! Foi complicado tê-lo cá em casa ainda uns 2 ou 3 meses, mas valeu a pena!
Arranjou uma mãe cinco estrelas, com espaço e amor para dar! No dia que foi embora chorei… de saudade e de felicidade, porque ao menos mais este, eu vou voltar a ver, e não se vai perder nas ruas da charneca!
Esta não é uma história fantástica, mas é a realidade da minha vida e da vida destes bichinhos que se cruzam comigo…
Sandra Duarte Cardoso
Lisboa, 4 de Outubro de 2007"
1 comentário:
mesmo sem cintilarem , vocês são estrelas maravilhosas espalhando o amor nos seres indefesos que tanto necessitam de nós!!! bem hajam amigas!!!!!! maria da graça delgado
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