"A alma de Deus, pode bem aparecer dentro dos olhos de um gato".

(Provérbio Celta)

sexta-feira, outubro 05, 2007

A HISTÓRIA FANTÁSTICA DE ÁLVARO DA CHARNECA

Esta não é uma HISTÓRIA minha... mas está FANTÁSTICA!!!

(Por Sandra Cardoso)

Alvaro Charneca…

"Quando era pequena dizia que ia ser "Escritora de histórias fantásticas" a part-time e "médica das baleias"!!! O meu Pai fartava-se de rir, e dizia sempre que com o tempo eu acabava por crescer e ia ser Advogada ou algo do género, UM EMPREGO SOLIDO!
Para desgosto dele, nunca cresci realmente, e a minha passagem pelo direito resumiu-se ao exame de admissão na Católica e a rápida escapada para MACAU para fugir aquele inferno! Sei lá... porque até tive boa nota, mas eu não fui talhadas para ser Advogada! No mínimo ia mandar os culpados para a cadeia e ser espancada pelos meus colegas e juízes!

Mas em pequena eu queria era salvar o mundo, nadar com as baleias, golfinhos em mar alto, brincar com as focas, correr com os cangurus, abraçar os macacos, e as preguiças, viver no meio dos gorilas, dos cães, dos gatos, das panteras e esquecer que existia civilização!

Sempre vivi em Lisboa, a Av. da Liberdade foi a minha casa durante toda a minha infância, aprendi a ler Lisboa como a palma das minhas mãos, sabia onde era tudo e nunca me perdia!
Quando ia para a escola, parava nos jardins e contemplava Lisboa, ficava deslumbrada com a luz, com o mar, com os prédios antigos, que imaginava logo as remodelações!!! No quadro o que estragava era o excesso de carros e de lixo... de diversos tipos...
No verão delirava com a praia, a Costa da Caparica era por excelência território de brincadeira… e liberdade… Era uma miúda traquina mas fácil de aturar segundo os meus pais e a Tia Eduarda, que na ausência de piscina, me arranjava um alguidar e eu ficava horas na quinta a sonhar, a chapinhar, a brincar com o Tarzan e os gatos do vizinho da quinta do lado! Não tinha animais meus, a minha mãe tinha a "pancada" das limpezas e nunca nada era duradouro para ela, por isso partiu-me o coração meia dúzias de vezes por causa dos animais….

Mesmo nessa altura, de vez em quando, apareciam uns desgraçados abandonados por ali, eu chorava pedia para os recolherem, mas as pessoas dali só lá passavam férias, e eles no verão ainda comiam e tinham festas, mas no Inverno ali ficavam, e muitos eu já não os voltava a ver…
Sentia-me pequena e impotente, ficava raivosa com todos e dizia que quando fosse grande me ia vingar! Iam todos para o lar! Não ajudavam os animais quando precisassem de ajuda, eu cá estava para lhes tratar da saúde!

Mas finalmente cresci, pelo menos em corpo, e embora não tenha sido "médica das baleias", nem "escritora de histórias fantásticas", continuo a achar que cada um de nós pode fazer a diferença e ir salvando o mundo que tem pelo menos ao seu alcance…
Já não vou para a Costa da Caparica de férias, nunca tenho tempo, já não entro dentro do alguidar para tomar banhos de sol, o Trazan já morreu e já não tenho com quem brincar, mas tenho a mesma vontade de fazer alguma coisa para mudar o que está errado…
Não meti ninguem no lar, com o tempo vou tendo umas vitórias: a minha família começa a ver os animais com outros olhos e a compreender esta minha luta… (nem todos ainda entendem, mas a ameaça do lar vai resultando!), já concordam que está errado abandonar e maltratar os animais desta maneira, já vão tolerando as minhas missões e ausências devido ao trabalho com os animais… Já vão protestando com os vizinhos que tem uma conduta menos boa com os animais, e já vão passando a palavra…

Está errado, esta gente ir de férias e abandonar os animais nas ruas, nos canis, ou ligar para a associações a dizer que já não podem ficar com o bicho e adeus!
Ora se não têm capacidade económica nem mental para ter um animal, não tenham! Não são obrigados; nem engravidam sem querer de animais! Por isso ter um animal, é apenas e só uma escolha! Não há cá desculpas como tem para os filhos: a pílula falhou, o preservativo estava roto, não sabia que se engravidava blá-blá-blá… eu ouço e vejo com cada coisa nas maternidades que nem vos passa pela cabeça! Ás vezes tenho que contar até dez para não as tratar mal e dar um par de estalos naquelas caras deslavadas! A paciência anda a encurtar com a idade, mas francamente, não há quem aguente tanta estupidez, irresponsabilidade e falta de ética junta!

Voltando a Charneca: num dos fins-de-semana que lá fui, dei com um canito com uns 3 meses abandonado no caixote do lixo! Embora o meu pai não tenha dito nada, o meu faro é pior que o dos cães e depressa dei com ele, ali esquecido, triste, cheio de carraças… estava gordo, mas estava vazio de tristeza… Mal me viu ficou submisso e adorou festinhas, os meus cães deram-lhe umas lambidelas e não demorou nada para ele vir a traz de mim e entrar para casa!
Era enorme, parecia já adulto, mas afinal, depois de ver os dentinhos, era um bebé, e só queria colo como bebé que era…

Todos protestaram, "o cão estava cheio de carraças e doenças", alegavam! Mas eu para variar nem ouvi metade, meti o cão no carro e vim-me embora.
O meu Pedrocas veio meio trombudo porque já cá tinha mais, mas depressa lhe passou, e o canito que entretanto ficou a chamar-se ÁLVARO (porque tinham umas sobrancelhas iguais ao do Sr. Álvaro Cunhal), e CHARNECA ( porque veio de lá) estava doentinho, mas depois de umas idas ao Tio Roberto, e umas picas minhas, ficou fino e lindo!
Crescia a cada dia que passava e quando eu ia á rua com ele era ele que me passeava! Foi complicado tê-lo cá em casa ainda uns 2 ou 3 meses, mas valeu a pena!
Arranjou uma mãe cinco estrelas, com espaço e amor para dar! No dia que foi embora chorei… de saudade e de felicidade, porque ao menos mais este, eu vou voltar a ver, e não se vai perder nas ruas da charneca!

Esta não é uma história fantástica, mas é a realidade da minha vida e da vida destes bichinhos que se cruzam comigo…

Sandra Duarte Cardoso
Lisboa, 4 de Outubro de 2007"

quinta-feira, outubro 04, 2007

DIA DO ANIMAL...

EM HONRA DAS BELEZAS QUE ALEGRAM A MINHA VIDA:

~

terça-feira, outubro 02, 2007

UMA HISTÓRIA VERDADEIRA PARA PARTILHAR

(By Tité)
... Porque afinal vale a pena...

"
Agosto, fim de tarde. Calor sem exagero. Uma pacata rua de Lisboa.

- Olha um gatinho! Ó bichinho, és muito bonito.
- Miaaaau, espera aí um bocadinho, estás a falar comigo?
- Tu és muito mansinho.
- Pois sou. Toma lá a minha cabeça para coçares. Podes fazê-lo quantas vezes quiseres.
- Estás perdido?
- Não estou perdido não, sou daqui perto, mas ninguém quer saber de mim, puseram-me na rua. Já agora toma lá a minha magra barriguinha e faz-me também umas cócegas. Não ligues às pulgas, não sei onde as encontrei. Incomodam-me um pouco mas também me fazem companhia. Isso, isso, podes continuar, estou a gostar muiiiiiito!
- Tens uns belos olhos da cor do céu.
- Tenho? Olha que nunca me tinham dito isso. O melhor que ouvi sobre mim foi: “És esquisito gato, tens um raio de uma cor, não és como os outros, és cinzento.”
- Não és nada esquisito, estás maltratado, mas és um lindo gato azul e com uns lindíssimos olhos azuis.
- És tão simpática, acho que gosto de ti. Espera que vou mostrar-te como sei dar turrinhas nas tuas pernas. Miauuuu! Leva-me prá tua casa!
- Ai, valha-me Deus! O que é que eu faço contigo? Tenho lá em casa aquele cão mimado que não está habituado a coabitar com gatos e não me parece que gostasses de viver assustado, em cima de um móvel, quase encostado ao tecto. Espera aqui por mim que vou buscar uma latinha de comida, água e a máquina fotográfica.
- Miauuuu, obrigado, entretanto vou fazer olhinhos ali à senhora do lugar de hortaliça, ela também me dá umas coisinhas.

---------
-Huuuuum, gosto desta latinha. Obrigado, pela comida e pelas festas, mas agora tenho de ir ali atrás ver se encontro alguém conhecido. Até amanhã simpática.

- Até amanhã lindo gato.

***

- Miaaau! Estava a ver que não aparecias. Tive saudades tuas. Falaste-me com voz suave e coças-me a cabeça e a barriga. Gostei, sabes, há muito que ninguém me dava desses mimos! Tens aí mais um bocadinho de festas e palavras doces que me possas dar?

- Isto está a ficar sério! Ontem não me saíste da cabeça, gato. Até mandei uma mensagem a uma menina que gosta muito de gatos e ainda mais quando são da tua cor. Ela vai ver o que pode fazer por ti e por mim, que só penso em ti. Tu és tão querido, não mereces viver na rua ou morrer atropelado por um automóvel.
***
- Onde andas gatinho, que já não te vejo há uns dias?
-------
“Encontrou-se gatinho cinzento Muito meigo Telef.: 00000000000”
-------
- Serás tu? Vou lá verificar. E se fores tu? O que é que eu digo à pessoa que te encontrou? Que és um gatinho de rua e que mesmo gostando tanto de ti não te posso levar para casa, mas também não te posso deixar com ela porque ando a tratar de te arranjar um lar de gente decente que não abandone os animais? Será que ela vai entender?
--------
- És tu mesmo, meu amado gato.
- Miaaaauuu! Olha a simpática que me dá latinhas e me faz cócegas na barriga e me fala com voz suave. Tive saudades tuas! Sabes, resolvi ir dar uma voltinha um bocadinho mais longe e esta senhora, também simpática, apanhou-me. Mas não pode ficar comigo porque os gatos dela não gostaram nada da ideia de ter mais um irmão e bufaram quando me viram. Faz-me festinhas nesta minha barriga, fazes-me?
--------
- É seu?
- Não, não é meu, mas ando à procura de um lar para ele. Ainda bem que o apanhou. Se pudesse ficar com ele mais uns dias, até eu lhe arranjar uma dona, seria o ideal.
- Claro que fico, ele não dá trabalho nenhum, só quer companhia. Esta noite até dormiu na cama da minha filha.
--------
E assim, D. Bonifácio de Calatrava (assim baptizado pela Mia), ficou, mais ou menos duas semanas, na senhora que o acolheu. Fui visitá-lo algumas vezes e só não fui mais para não estar a incomodar, porque aquele gatinho lindo e sedutor tinha cravado os seus olhos no meu coração.
Ontem, D. Bonifácio, perdeu a sua virilidade e hoje já está na sua nova casa, na Ericeira, com uma dona que se apaixonou por ele ao primeiro olhar.
E eu?
Eu estou roidinha de saudades dele. Resta-me a satisfação de saber que ele está bem e a promessa de ter noticias e fotos dele muitas vezes.
"
Um fim feliz graças á Tité e á Vanda!!! Obrigada a ambas.
Sem vós, D. Bonifácio de Calatrava seria um gato esquecido no meio de uma enorme cidade...